DO SUBLIME

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Tradução de Marta Várzeas

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

FICHA DE TRABALHO - Domínio Educação Literária


História Trágico-Marítima


Lê atentamente o excerto do capítulo V da História Trágico-Marítima.


No dia que se seguiu ao da partida dos corsários, mandou Jorge de Albuquerque coser uma vela com uns tantos guardanapos e toalhas de mesa, que se acrescentaram a uma velinha latina, do esquife1 dos Franceses, que lhes ficara. De dois remos do batel fizeram verga2: de uns pedaços da enxárcia3 que restavam, de cordões de rede e de morrões4, lograram5 improvisar um arremedo6 de enxárcia. Ao leme, que ficara dependurado por um só ferro, lançaram umas cordas como bragueiros7 para que pudesse servir por uns três dias.
Com este aparelho seguiram viagem, lançando rumo pelo nascer do sol à falta de instrumentos de marear, que todos lhes roubaram os Franceses.

A manobra da bomba custava-lhes muito. Alguns, no meio dela, caíam no convés sem vista nos olhos, de pura fome e cansaço.

Considerando isto, num dia de calma e de mar chão8, rogou Jorge de Albuquerque a Domingos da Guarda, marinheiro com fama de mergulhador, que visse se conseguia tomar de mergulho uma parte da água que fazia a nau, já que era impossível tomá-la por dentro, por ser muito em baixo que ela entrava; e prometeu que lho pagaria muito bem. Ao querer o Domingos lançar-se à água, todos se puseram de joelhos. Com três mergulhos, tomou o marinheiro a maior parte da água, resultado com que todos se alegraram muito, por os poupar à necessidade de dar à bomba.

Pouco lhes durou essa alegria. No dia seguinte ao de se tomar a água voltou o nordeste a soprar rijíssimo, com grandes vagas e com muito frio. Mal se aguentavam com os balanços da nau; as mesas da guarnição, por andarem soltas, faziam uma matinada9 de mil demónios; as ondas galgavam e invadiam tudo; e já o alimento chegava ao fim. Só três cocos se distribuíam por dia, isto para cerca de quarenta pessoas.

Assim seguiam, ao sabor do vento. Voltou a tortura de dar à bomba; vieram o desânimo e a fome horrível. Jorge de Albuquerque, além dos trabalhos comuns aos outros – pois de todos irmãmente partilhava ele – tinha ainda o cuidado de prover a tudo, e o de comandar, consolar, animar os homens […].

“As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho (1565)”. In Historia Trágico-Marítima. Narrativas de naufrágios da época das conquistas (adaptação de António Sérgio), 2015. Capítulo V. Porto:
Porto Editora (pp. 128-130) (1.ª ed.: 1735-1736)


1. embarcação pequena; 2. pau preso ao mastro do navio, onde se amarra a vela; 3. o conjunto dos cabos fixos que, para um e outro bordo, aguentam os mastros reais; 4. pedaços de corda, desfiados na extremidade para dar fogo às peças de artilharia; 5. conseguiram; 6. imitação, improvisação; 7. cabos com que se segurava o leme quando se quebravam os ferros que normalmente o prendiam; 8. sem ondas; 9. algazarra.





Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas ao questionário.

1. Explicita, fundamentando, os momentos da estrutura interna do texto.

2. Enumera as desventuras sofridas pelos marinheiros após a partida dos corsários franceses.

3. Apresenta, recorrendo a elementos textuais, dois dos traços de carácter de Jorge de Albuquerque evidenciados no excerto.

OEXP12 DP © Porto Editora

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