DO SUBLIME

DO SUBLIME
Tradução de Marta Várzeas

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018


COMMENTARII
COLLEGII CONIMBRICENSIS
SOCIETATIS
IESV
IN DVOS LIBROS DE GENERATIONE
et Corruptione, Aristotelis
Stagiritae













CONIMBRICAE
Ex Officina Antonii a Mariz Vniuerfitatis Typographi
Anno Domini, M.D.LXXXXVII.
Cum Priuilegio Regis, et facultate Superiorum.


FINALMENTE transcrito.
Que ano pleno de emoções!

terça-feira, 4 de dezembro de 2018



Vinha de longe o mar...
Vinha de longe, dos confins do medo...
Mas vinha azul e brando, a murmurar
Aos ouvidos da terra um cósmico segredo.


E a terra ouvia, de perfil agudo,
A confidencial revelação
Que iluminava tudo
Que fora bruma na imaginação.


Era o resto do mundo que faltava
(Porque faltava mundo!).
E o agudo perfil mais se aguçava,
E o mar jurava cada vez mais fundo.


Sagres sagrou então a descoberta
Por descobrir:
As duas margens de certeza incerta
Teriam de se unir!


Miguel Torga "Portugal"




Resultado de imagem para sagres

Canção do Marinheiro

CONTORNANDO ADAMASTORES

CONTORNANDO ADAMASTORES

Dom Dinis "Non chegou, madr', o meu amigo"


ARCAÍSMOS E NEOLOGISMOS - UMA LÍNGUA EM CONTÍNUO FLUIR



SÚPLICA


Agora que o silêncio é um mar sem ondas, 
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto. 
Só soubemos sofrer, enquanto 
O nosso amor 
Durou. 
Mas o tempo passou, 
Há calmaria... 
Não perturbes a paz que me foi dada. 
Ouvir de novo a tua voz seria 
Matar a sede com água salgada.

Miguel Torga

MIGUEL TORGA

MIGUEL TORGA

Miguel Torga
Nasceu a 12 Agosto 1907
(S.Martinho de Anta-Sabrosa, Portugal)
Morreu em 17 Janeiro 1995
(Coimbra)





FICHA DE TRABALHO


DOMÍNIO DA EDUCAÇÃO LITERÁRIA




MENSAGEM


Lê com atenção o poema de Mensagem.

Screvo' meu livro à beira-mágoa.


Meu coração não tem que ter.
Tenho meus olhos quentes de água.
Só tu, Senhor, me dás viver.

Só te sentir e te pensar
Meus dias vácuos enche e doura.
Mas quando quererás voltar?
Quando é o Rei? Quando é a Hora?

Quando virás a ser o Cristo
De a quem morreu o falso Deus,
E a despertar do mal que existo
A Nova Terra e os Novos Céus?

Quando virás, ó Encoberto,
Sonho das eras português,
Tornar-me mais que o sopro incerto
De um grande anseio que Deus fez?

Ah, quando quererás, voltando,
Fazer minha esperança amor?
Da névoa e da saudade quando?
Quando, meu Sonho e meu Senhor?



PESSOA, Fernando, 2008. Poesia do Eu. 2.a ed.
Lisboa: Assírio & Alvim (p. 375)


Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas ao questionário.

1. Explicita a estrutura do poema, delimitando os diferentes momentos da sua organização interna.

2. Relaciona o estado de espírito do sujeito poético com a forma como é apresentado o “Senhor”.

3. Refere um dos efeitos de sentido produzidos com a repetição do advérbio “quando” ao longo do poema.


OEXP12DP © Porto Editora

MENSAGEM

MENSAGEM

HISTÓRIA TRÁGICO MARÍTIMA

HISTÓRIA TRÁGICO MARÍTIMA

OS LUSÍADAS, DE LUÍS DE CAMÕES




SUBLIMIDADE DO CANTO

® Sendo um poema épico, que celebra a grandeza de um povo, Os Lusíadas recorre a um estilo nobre e sublime e a um tom elevado para elogiar a ação dos heróis.

® São as palavras da poesia a matéria usada para glorificar os feitos admiráveis dos Portugueses. Elas têm o poder de os valorizar, mas também de os divulgar por todo o mundo e de os registar para a posteridade. O poema imortaliza os heróis portugueses e as suas proezas porque perpetuarão a sua fama na memória da humanidade.

® Mas a epopeia enaltece outros aspetos admiráveis da História de Portugal e das Descobertas marítimas. No quadro de ideias do Renascimento, o canto celebra o Homem, que vence os seus limites e se supera, mas também celebra o saber e o encontro entre culturas que a expansão portuguesa proporciona. Festeja-se ainda a própria poesia, que permite esta celebração, e o amor: conhecer, aperfeiçoar-se, relacionar-se com o Outro (outros povos) e poetar são atos de amor.

® Se as vitórias militares e os triunfos no mar pedem um discurso épico para os narrar (“tuba canora e belicosa”), outros momentos, como o amor de Pedro e Inês de Castro ou a reflexão sobre a fragilidade humana (Canto I, est. 105-106), são tratados em registo lírico, o registo adequado para tirar partido do poder das palavras para exprimir sentimentos e ideias tão humanos.

® Camões crê que, se o canto e a palavra conseguem engrandecer o passado, devem também poder contribuir para melhorar o futuro. A época em que o Poeta vive já não é o período glorioso dos Descobrimentos: Portugal está em decadência. Mas Camões crê que Os Lusíadas tem um valor didático e propõe um conjunto de valores cívicos, éticos e culturais que servem de orientação para fazer um país melhor (cf. Reflexões do Poeta). O Poeta chega a dar conselhos de governação ao rei.

MITIFICAÇÃO DO HERÓI 

® Segundo os códigos do género épico, o herói é uma figura de excelência. Oriundo de uma estirpe nobre, distingue-se pelo mérito e pelos seus valores e realiza feitos extraordinários.

® Como o título Os Lusíadas sugere, o herói central da epopeia de Camões é coletivo: trata-se do povo português, que, ao longo da sua história, realizou obras excecionais. Alguns autores veem Vasco da Gama como o herói individual da epopeia: a personagem é certamente o protagonista do plano narrativo da viagem, porém, podemos questionar se Gama tem o brilhantismo e o caráter de exceção necessários para assumir este estatuto.

® Na verdade, mais do que identificar um herói, o poema de Camões define um modelo de heroísmo. O herói corresponde a um ideal humano. Ascende a este estatuto aquele que, pelo mérito, pelas suas virtudes e pelos atos realizados, ultrapassa a sua condição de homem e se eleva a um plano superior. (As reflexões do Poeta ajudam a traçar o modelo de herói.)

® A noção de herói define-se nos domínios ético, cívico, intelectual e militar. Caracteriza-se pois também pelas causas que serve. O herói está ao serviço do rei, de Deus e da comunidade. Bate-se por ideias importantes e nobres e menospreza os valores mundanos do dinheiro e do poder.

® Na definição de heroísmo d’Os Lusíadas confluem ideais renascentistas e medievais. No quadro do Humanismo, que crê nas capacidades e na liberdade do ser humano, o herói é aquele que se revela uma figura de exceção pelo seu mérito e por defender valores cívicos, morais e culturais – os artistas, os pensadores e os cientistas podem alcançar este estatuto. Na aceção medieval, intervêm a vertente guerreira do herói, a sua genealogia, a coragem, o serviço ao rei, à pátria e à religião.

® Na epopeia de Camões, os heróis ultrapassam provações, em terra (em campanhas militares) e no mar, e realizam atos admiráveis. Os portugueses rivalizam com os deuses e saem vencedores neste confronto. A glória que alcançam traduz-se na imortalização do seu nome e da sua fama: o herói supera, pois, a condição de homem comum. Por isso, os navegadores são metaforicamente divinizados na sua união com as ninfas na Ilha dos Amores – tornam-se, deste modo, iguais aos deuses.

                                                                               Manual Entre Nós e as Palavras, 10º ano (Adaptação)


FICHA DE TRABALHO - Domínio Educação Literária


História Trágico-Marítima


Lê atentamente o excerto do capítulo V da História Trágico-Marítima.


No dia que se seguiu ao da partida dos corsários, mandou Jorge de Albuquerque coser uma vela com uns tantos guardanapos e toalhas de mesa, que se acrescentaram a uma velinha latina, do esquife1 dos Franceses, que lhes ficara. De dois remos do batel fizeram verga2: de uns pedaços da enxárcia3 que restavam, de cordões de rede e de morrões4, lograram5 improvisar um arremedo6 de enxárcia. Ao leme, que ficara dependurado por um só ferro, lançaram umas cordas como bragueiros7 para que pudesse servir por uns três dias.
Com este aparelho seguiram viagem, lançando rumo pelo nascer do sol à falta de instrumentos de marear, que todos lhes roubaram os Franceses.

A manobra da bomba custava-lhes muito. Alguns, no meio dela, caíam no convés sem vista nos olhos, de pura fome e cansaço.

Considerando isto, num dia de calma e de mar chão8, rogou Jorge de Albuquerque a Domingos da Guarda, marinheiro com fama de mergulhador, que visse se conseguia tomar de mergulho uma parte da água que fazia a nau, já que era impossível tomá-la por dentro, por ser muito em baixo que ela entrava; e prometeu que lho pagaria muito bem. Ao querer o Domingos lançar-se à água, todos se puseram de joelhos. Com três mergulhos, tomou o marinheiro a maior parte da água, resultado com que todos se alegraram muito, por os poupar à necessidade de dar à bomba.

Pouco lhes durou essa alegria. No dia seguinte ao de se tomar a água voltou o nordeste a soprar rijíssimo, com grandes vagas e com muito frio. Mal se aguentavam com os balanços da nau; as mesas da guarnição, por andarem soltas, faziam uma matinada9 de mil demónios; as ondas galgavam e invadiam tudo; e já o alimento chegava ao fim. Só três cocos se distribuíam por dia, isto para cerca de quarenta pessoas.

Assim seguiam, ao sabor do vento. Voltou a tortura de dar à bomba; vieram o desânimo e a fome horrível. Jorge de Albuquerque, além dos trabalhos comuns aos outros – pois de todos irmãmente partilhava ele – tinha ainda o cuidado de prover a tudo, e o de comandar, consolar, animar os homens […].

“As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho (1565)”. In Historia Trágico-Marítima. Narrativas de naufrágios da época das conquistas (adaptação de António Sérgio), 2015. Capítulo V. Porto:
Porto Editora (pp. 128-130) (1.ª ed.: 1735-1736)


1. embarcação pequena; 2. pau preso ao mastro do navio, onde se amarra a vela; 3. o conjunto dos cabos fixos que, para um e outro bordo, aguentam os mastros reais; 4. pedaços de corda, desfiados na extremidade para dar fogo às peças de artilharia; 5. conseguiram; 6. imitação, improvisação; 7. cabos com que se segurava o leme quando se quebravam os ferros que normalmente o prendiam; 8. sem ondas; 9. algazarra.





Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas ao questionário.

1. Explicita, fundamentando, os momentos da estrutura interna do texto.

2. Enumera as desventuras sofridas pelos marinheiros após a partida dos corsários franceses.

3. Apresenta, recorrendo a elementos textuais, dois dos traços de carácter de Jorge de Albuquerque evidenciados no excerto.

OEXP12 DP © Porto Editora

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

PARA UMA HERMENÊUTICA DA POÉTICA DO VERSO E DO REVERSO



«O BARCO VAI DE SAÍDA

O barco vai de saída
Adeus ó cais de Alfama
Se agora vou de partida
Levo-te comigo ó cana verde
Lembra-te de mim ó meu amor
Lembra-te de mim nesta aventura
P’ra lá da loucura
P´ra lá do equador

Ah! mas que ingrata ventura bem me posso queixar
Da pátria a pouca fartura
Cheia de mágoas ai quebra mar
Com tantos perigos ai minha vida
Com tantos medos e sobressaltos
Que eu já vou aos saltos
Que eu vou de fugida

Sem contar essa história escondida
Por servir de criado a essa senhora
Serviu-se ela também tão sedutora
Foi pecado.
Foi pecado!
E foi pecado sim senhor!
Que vida boa era a de Lisboa!

Gingão de roda batida
Corsário sem cruzado
Ao som do baile mandado
Em terras de pimenta e maravilha
Com sonhos de prata e fantasia
Com sonhos da cor do arco-íris
Desvairas se os vires
Desvairas magia

Já tenho a vela enfunada
Marrano sem vergonha
Judeu sem coisa sem fronha
Vou de viagem ai que largada
Só vejo cores ai que alegria
Só vejo piratas e tesouros

São pratas são ouros
São noites são dias

Vou no espantoso trono das águas
Vou no tremendo assopro dos ventos
Vou por cima dos meus pensamentos
Arrepia
Arrepia
E arrepia sim senhor
Que vida boa era a de Lisboa

O mar das águas ardendo
O delírio dos céus
A fúria do barlavento
Arreia a vela e vai marujo ao leme
Vira o barco e cai marujo ao mar
Vira o barco na curva da morte
Olha a minha sorte
Olha o meu azar

E depois do barco virado
Grandes urros e gritos
Na salvação dos aflitos
Esfola, mata, agarra
Ai quem me ajuda
Reza, implora, escapa
Ai que pagode
Reza tremem heróis e eunucos
São mouros são turcos
São mouros acode

Aquilo é uma tempestade medonha
Aquilo vai p´ra lá do que é eterno
Aquilo era o retrato do inferno
Vai ao fundo
Vai ao fundo
E vai ao fundo sim senhor
Que vida boa era a de Lisboa.
Letra e música de Fausto Bordalo Dias, in Por este rio acima, 1982
Por este rio acima é o sexto álbum de Fausto, editado em 1982. É o primeiro disco da trilogia inacabada "Lusitana Diáspora", que inclui ainda o álbum Crónicas da Terra Ardente (1994). Baseia-se nas viagens de Fernão Mendes Pinto, relatadas na sua Peregrinação. É considerado geralmente pela crítica um dos álbuns mais marcantes da música de intervenção portuguesa das últimas décadas.»
Cf. http://folhadepoesia.blogspot.com/2014/09/o-barco-vai-de-saida-fausto.html


ATIVIDADE: Diálogo sobre o conteúdo da letra da música Por este rio acima.




Uma Revista a consultar!

domingo, 2 de dezembro de 2018

DA PRÉ-CONSCIÊNCIA DA IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA PORTUGUESA E DO SEU LOUVOR EM TEMPOS DE DOMÍNIO FILIPINO, NA ARTE POÉTICA DE D. ANTÓNIO DE ATAÍDE



António de Ataíde, 5.º conde da Castanheira e 1.º conde de Castro D’Aire, nasceu por volta de 1567 ou um pouco antes e morreu a 14 de Dezembro de 1647. Vivenciou os impactos da sua existência com índole apaixonada e os limiares de novas conceções artísticas e literárias como homem de letras singular, insigne capitão-general do ponto de vista da estratégia militar, almirante versado e político polifacetado nas suas práticas.
Presenciou as primeiras colonizações do Brasil, experimentou o desastre de Alcácer‑Quibir e a subsequente perda da independência; escolheu o partido dos Filipes – sem nunca descurar a sua origem lusa –, governou regiões desmedidas, ambulou pela Índia, deslizou por oceanos e sentiu na pele as fragosidades dramáticas do trágico e do épico. A plenitude de todo o território e do mar português estiveram sempre na linha da frente para o 1.º conde de Castro D’Aire. Não foi por acaso que alteou até ao Olimpo Luís de Camões, bem como outros escritores de língua portuguesa.
D. António de Ataíde, devido às circunstâncias do tempo em que viveu, esteve profundamente ligado à gestão dos Habsburgos de Espanha. No entanto, no seu manuscrito, intitulado Borrador de huma arte poetica que se intenta/ua escrever, lavrado entre 1599 e 1602, observa-se um enaltecimento e uma pré-consciência da importância da língua portuguesa. 
Foi um dos primeiros críticos da obra de vários autores portugueses, nomeadamente Camões, apontando-o como um exemplo a seguir para o género épico e um acérrimo defensor da língua e dos autores lusos. Assim, deve a obra do 5.º conde da Castanheira ser aprofundada, pois a edificação da Lusofonia é um processo em contínua pesquisa e evolução.


Palavras-chave: Camões; epopeia; Lusíadas; Lusofonia; Poética.